Podemos nos deparar com histórias bizarras e estranhas mundo a fora.
No último post, um cara achou um jogo estranho para o emulador do Game Boy.
No post de hoje teremos um assunto mais leve do que assassinatos, monstros ou maldições. É uma história sobre o tempo, a vida e a morte...
A Maldição e a Benção
O tempo é cruel.
Ele tira a sua juventude, seu espírito, sua vida. Ele tira
de você as suas lembranças mais felizes, seus amigos mais queridos e sua amada
família. O tempo não espera homem nenhum, a roda continua a se mover e nós
somos seus passageiros.
O amor juntou duas pessoas, e era amor real. Apesar de
discutirem e brigarem eles entendiam um ao outro, consentiam nos momentos que
era preciso consentir.
Eles tiveram duas belas crianças. Ciraram-nas para serem
tudo que elas poderiam ser., conforme o tempo passou, as crianças cresceram, e
tiveram filhos. Estações iam mudando, assim como eles. A cada ano eles ficavam
mais velhos. Com cada ano, sendo o tempo deles.
“Lilly.”
“Sim, eu estou aqui, Tommy.”
Lilly segurou com força as mãos pálidas de Tom. Elas estavam
geladas e fracas.
“Eu quero que você lembre... Você foi quem fez minha vida se
completar.”
Uma lágrima saiu de um dos olhos de Lilly e gentilmente
escorreu pela sua bochecha. Ela fez uma careta e enguliu seu choro.
“Não diga isso Tommy, nós ainda não chegamos ao fim.”
Tom sorriu. Um sorriso fraco, porém genuíno. Suas pálpebras
estavam pesadas, ele mal conseguia manter seus olhos abertos.
“Olhe para mim, querida.”
Ela limpou as bochechas em silêncio e olhou para Tom. Ela
não conseguiu se conter e chorou bem alto.
“Agora, querida, essa não será a última vez que nos veremos.
Eu estarei esperando por você...”
Tom ergeu um dedo fraco e apontou para cima.
“Lá em cima.”
Com suas últimas forças, Tom se sentou e beijou sua esposa
na testa, antes de cair de volta na cama, caindo em seu último sono. Conforme
seu último suspiro lhe escapava, assim como sua alma e viajou para as águas do
rio do tempo. O tempo é cruel.
As estações continuaram mudando. Lilly agora vivia sua vida
numa casa vazia, uma falsa representação do que as coisas costumavam ser. Ela
se sentava perto da janela, tomando uma chícara de chá. O vidro estava todo
pontilhado com marca de gotas de chuva e o constante assobio do outono era
agora o único barulho a se observar. O inverno vindouro deixava as árvores
desnudas, seus galhos e pequenos ramos agora pareciam dedos, agarrando a lona
nublada e cinza que era o choro de Lilly.
Uma luz fria projetou-se na sala durante o final do último
pôr do Sol. Lilly alcançou sua chícara. Ela mal podia levantá-la, suas mãos
tremiam, derramando um pouco de chá conforme ela levava-a a sua boca. Ela
estava gelada.
As dobradiças da janela se abriram e uma onda de frio
assustadora a banhou. Rapidamente e graciosamente, uma jovem raposa entrou pela
janela. Sua pelagem era prata brilhante e seus olhos pretos. Ela se sentou na
mesa e olhou para Lilly.
Era chegada a hora?
“Não.”
Lilly fez um grande esforço para se levantar e fechar a
janela de novo. Ela não conseguiria correr atrás da raposa, mesmo que ela
quisesse.
Ela se apoiou na velha bengala de Tom. Ela se aguentou de pé
assim que encontrou equilíbrio e cambaleou até chegar no sofá perto da lareira.
A raposa deu um salto e elegantemente foi nas póntas das patas até o sofá e
subiu nele, ficando no lugar ao lado de Lilly enquanto ela caia no sofá. As
pernas dela doiam e eela estava sem folêgo.
Era chegada a hora?
“Não.”
Lilly olhou para a raposa. Ainda estava apenas olhando para
ela, com aqueles olhos negros. A iluminação do fogo estava brilhando em suas
costas.
“Por que você está aqui, raposinha?” ela balbuciou, forcando
um sorriso em sua expressão de dor. A raposa apenas olhou de volta pra ela, em
silêncio.
Lilly não sabia o que ela queria, mas ela estranhamente se
sentiu confortável com a presença da raposa. Ela esticou seu braço e acariciou
seus pelos. Eram sedosos e macios. A raposa piscou, mas não reagiu. Apenas
encarou-a em retorno. Ela mergulhou no sofá e se pôs a dormir.
Um raio de Sol que cortava as nuvens fez com que Lilli
acordasse de sua soneca. Ela ainda estava largada no sofá e a raposa continuava
a seu lado. Parecia que ela não tinha dormido. Reconhecia que ela havia
acordado com uma piscada. Lilly sentia as própias gengivas. Sua boca estava
seca. Ela deu pela falta da bengala de Tom e depois de achá-la, usou-a para se
levantar do sofá. Ela ficou de pé por um momento. Ela não tinha muita energia restando.
Lilly olhou em direção a pia. A raposa a acompanhou do sofá.
Passo.
A dor está cegando-a.
Passo.
Quase lá.
Passo.
A escuridão ficou a sua volta.
Ela acabou, deitando-se no chão, com a bengala de Tom ao seu
lado. A raposa piscou para o despertar dela e lentamente caminhou para perto
dela.
“Olá, raposa.”
A raposa se sentou e ficou encarando ela.
“Você é um anjo?”
A raposa continuou encarando-a. Lágrimas corriam pelos seus
olhos.
“Por que você levou o meu Tommy?”
A raposa piscou.
A vida é nosso presente, o tempo é nossa maldição. O tempo
de Tommy foi mais curto que o de Lilly e o presente de Tommy foi poder morrer
nos braços dela. O tempo de Lilly foi mais longo e aborrecido pelo fardo da
solidão. Sem saber, Lilly fez um sacríficio para que os últimos momentos de Tom
fossem felizes.
Lilly chorou.
“Eu faria tudo para ter mais um dia com ele, raposa.”
A raposa piscou.
O tempo que Lilly passou com Tommy ainda não tinha acabado.
É chegada a hora?
Lilly olhou para a raposa, com lágrimas em seus olhos. O
tempo é gentil.
“Sim.”
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