sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Histórias Estranhas #26: Eu sou apenas um encarregado do caixa

Podemos nos deparar com histórias bizarras e estranhas mundo a fora.
No último post, vimos que um cara tentou decifrar O Código.
Na história de hoje veremos o relato de um cara que tinha um companheiro de trabalho que era muito quieto, quito até demais...

Eu sou apenas um encarregado do caixa

Eu me despedi do último cliente, desliguei a minha caixa registradora e andei até a sala de descanso. Meus pés estavam me matando e estava muito feliz que meu estafante turno de 8 horas já estava na metade. Na sala de descanso estava Joe sentado. Ele era um cara legal, eu acho, só que ele era meio... Quieto. Ele só chegava, fazia o trabalho que tinha de ser feito e ia para casa. Porra, o gerente estava pegando no pé dele por não dizer “Obrigado por vir ao Kwik-E Mart!” Quando os clientes estavam indo embora. Dei apenas um leve sorriso, como um gesto amigável, e segui para a geladeira, não pensando nem duas vezes nisso. Estiquei minhas mãos e peguei minha Coca diet e minha salada.
Me sentei em frente ao Joe e ele nem reagiu. Ele não olhou para mim, acenou, disse “oi”, nada disso. Como eu disse, ele era um cara meio sombrio. Abrindo a Coca e deixando aquele som familiar afastar os momentos estranhos que estavam se aproximando. Entre as mastigadas, decidi tentar começar uma conversa. Talvez o motivo de ele ser tão quieto é porque ninguérm nunca tentou falar com ele antes.
“Cara” eu disse, com a boca cheia de alface, “o terceiro turno é um saco, né?” Ele olhou para mim, meio espantado e apenas concordou com a cabeça. Dando outra mordida, levei um segundo para analisar o Joe e ver se podia identificar os interesses dele. Julgar um livro pela capa é ruim, sei disso, mas eu tinha que tentar.  “Então, cê comprou o novo jogo do Call of Duty? Eu tenho um lá em casa, é muito bom cara.” “Sim” ele disse num sussurro bem baixo. Dei a última mordida na salada e tomando o último gole do meu refrigerante, então dei um tchau pro Joe e segui para o banheiro antes de voltar a trabalhar. Conforme passava pela frente da loja, meu gerente me parou, “Ei!” ele disse, me segurando pelo braço, “Não demore muito lá. Temos pessoas reclamando na loja.” Concordei com a cabeça, então continuei seguindo ao meu destino. Era meio esquisito ter tanta gente no terceiro turno, mas imaginei que devia ter algum tipo de festa em algum lugar e as pessoas queriam cerveja. Enquanto começava a mijar, pude ouvir meu chefe gritando o mais alto póssivel na sala de descanso.
“Quantas vezes eu te disse?” ele gritou “Apenas diga obrigado! Porra, é tão difícil assim?” Agora sabia que ele estava falando com o Joe. Me senti mal pelo cara. Ele tinha mais ou menos a minha idade, por volta de 22, e ele apenas estava tentando receber dinheiro, como todos nós. A gritaria acabou por volta de um minuto depois e quando estava prestes a sair do box do banheiro, a porta de entrada do banheiro abriu com tudo, batendo contra a parede. Conseguia ver pó de concreto caindo lentamente da parede. Assustado pra caralho, voltei pra dentro do box do banheiro, me sentei com meus joelhos próximos do meu peito. Estava com medo de espiar pra ver quem era, mas supus que fosse o Joe. Também estaria puto se alguém gritasse comigo daquele jeito. Foi quando ouvi, era quase inaudível sobre o som estático das lâmpadas fluorescentes no teto. Ele estava resmungando baixinho para ele mesmo. Primeiramente, parecia reclamações normais, até que apróximei minha orelha da junção da parede com a madeira e tentei decifrar aqueles resmungos. Quando as palavras que ele dizia ficaram claras, meu sangue gelou, mais do que o ferro que eu estava próximo.
“Ele vai aprender. Ele vai ter o que merece, ah sim. Todos vocês vão ver.”
Meu coração desacelerou. O que ele queria dizer com aquilo? Ele ia bater nele? Fiquei sentado em posição fetal, imaginando o que ele iria fazer. Cheguei a conclusão de que era melhor tentar falar com ele. Deixei meus pés tocarem o chão e me levantei vagarosamente. Foi aí que ouvi outro som que me fez travar de medo. Escutei um pente sendo colocado dentro de uma pistola e balas sendo colocadas dentro dela. Tentei abrir a porta do box, mas a prota estava emperrada.
“Joe!” eu gritei. “Não faça isso!” A porta do do banheiro abria lentamente. Joe me respondeu “Isso é algo que você deveria ter previsto. Tem de ser feito.” A porta do banheiro se fechou lentamente conforme ele saia.
“Joe! Volte aqui!”
Chutei a porta do box do banheiro com toda a força que pude juntar, e a porta chacoalhou, tremeu, e abriu. Ouvi gritos e corri para a entrada da loja. Todo mundo estava parado, em choque, morrendo de medo. Joe estava de pé lá, com sua 9mm em punho e apontando para o gerente, diretamente entre os olhos dele. O gerente estava com suas mãos acima da cabeça e tremendo de medo.
“Joe” ele falou, “Você não precisa fazer isso. S-só abaixe a arma e podemos entrar num acordo.” “Não tem nada pra entrar num acordo!” Joe gritou. Ele estava começando a chorar. “Você fodeu com a minha vida pela última vez!” Fiquei parado lá em estado de absoluto terror, que mais eu podia fazer?  Eu sou só um encarregado do caixa. Peguei meu celular e digitei 911.
“911, qual a sua emergência?”
“Eu sou um encarregado do caixa no Kwik-E Mart. Nós temos um funcionário que está apontando uma arma para o gerente.” Joe e o gerente estavam gritando um para o outro, quando do nada, a pistola derrubou-o. Ele estava caido no chão, e Joe estava de pé sobre ele, com sua arma apontando pra testa dele.
“Policiais foram mandados para aí. Eles estarão aí em alguns minutos.”
“O.K.” disse “O que devo fazer?”
“Apenas dê espaço a ele. Não de nenhum motivo para ele atirar.”
“O.K.”
Gotas de suor escorriam pelo meu rosto, a tenção era tanta que dava pra sentî-la no ar. Pelo que pareceram horas, fiquei vendo o Joe gritar e xingar o gerente. Ele ficou falando sobre como ele o tratava mal e como ele ia “ter o que mereçe.” Finalmente as sirenes podiam ser ouvidas fora da loja e teve uma estranha sensação de alívio por alguns segundos.
Os policiais entrou com tudo e sacaram as armas, imediatamente apontando para o Joe.
“Me deixem em paz!” O Joe gritou. Ele começou a bater de leve a arma contra a sua cabeça. “Calem a boca! Calem a boca! Calem a boca!”
“Senhor, acalme-se e jogue sua arma no chão!” disse um dos policiais. Não fazia ideia alguma de o que estava acontecendo e por que ele estava gritando daquele jeito. “Senhor, abaixe a sua arma, senão iremos começar a atirar!” Os gritos de Joe pararam e ele começou a rir como um maniaco. Era uma risada horrivelmente distorcida que quase não parecia humana.
A risada continuou por alguns minutos, antes de ele se virar para o gerente que estava chorando no chão.
“Obrigado senhor! Sem a sua ajuda nunca teria tamanha coragem para isso!” Joe balançou um pouco a arma e puxou o gatilho, mandando uma bala direto no crânio do gerente. O sangue começou a sair, todos os que estavam lá se assustaram e alguns até vomitaram. Apenas fiquei olhando com medo, incapaz de forçar até palavras pra sairem da minha boca. A risada maniaca voltou e se alastrou pela loja.
“Atirem quando a ordem for dada!” um dos policiais gritou. Contei oito tiros antes que Joe caísse no chão e mesmo assim, quando a arma foi tirada da mão dele e ele se encontrava caido no chão e sangrando, ele ainda ria aquela gargalhada horrenda e conseguiu se manter vivo até a chegada da ambulância.
Nunca soube se o Joe sobreviveu após isso, mas descobri que ele foi diagnosticado com esquizofrenia, o que explicou o episódio daquele dia. Isso foi a três anos atrás e eu consegui um novo emprego desde então. Estou feliz em ter deixado tudo para trás desde aquele dia. Mas eu juro, ainda consigo ouvir o Joe me chamando quando estou tentando dormir.
“Robert” ele me chama “você esteve lá por mim, agora eu estou aqui para você!”
Por que ele estaria aqui para mim? Eu sou só um encarregado do caixa.



Espalhem o medo!

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